NO DIA MULHER, ESSA É A MULHER!!!
EU ACHO, ALIÁS, TENHO CERTEZA, QUE A MULHER QUE EU MAIS
admiro no mundo é a minha mãe...
Eu poderia esperar o Dia das Mães para prestar minhas
homenagens, mas, depois de tudo o que passamos juntas... E esse tudo é muita
coisa!
Uma coisa que eu adorava fazer na infância era ver minha mãe
cantar... Ela ainda canta, é que eu não moro mais com ela, e é difícil eu
presenciar isso...
Ela lavava a louça, e ia loooonge nos sambas, nas músicas
românticas, e quando não sabia cantar, assoviava...
A gente morava num barraco, de dois cômodos, e ela limpava tudo,
e conseguia deixar tudo bonito! O calor incomodava, e eu lembro que gostava de
ficar deitada no chão limpinho e frio, pra refrescar...
Ela comprava roupas pra gente com a Cleide, do fusquinha
cinza/verde, para passarmos as festas de final de ano com roupas novas...
Tentava economizar o máximo possível, pois em sua mente, meu pai se matava de
trabalhar, e é verdade, mas ele gastava também por aí, e não quero entrar nesse
assunto, não para homenageá-la!
O inverno nos anos 80 era rígido, e as paredes como eram de
madeira, tinha muitas frestas... Lembro que sempre ganhávamos roupas das amigas
dela, e isso não podemos dizer que faltou...
Eu apanhei pra caralho, e de nós quatro, não dá pra dizer o
que mais apanhou, e não éramos crianças que desobedecia a suas ordens, ela só
olhava, e a gente já tremia! Mas, como
boas crianças atentadas, é claro, a gente aprontava... Imagine se eu teria saco
pra quatro crianças, ela é verdadeiramente vitoriosa!
A mãe dela faleceu quando ela tinha apenas 2 anos de
idade... Passou então, sua infância e adolescência com a madrasta, e não se
davam lá tão bem...
Na adolescência, com 13 anos, trabalhava em casa de família,
e dava o dinheiro todo na mão de seu pai...
“ Mas mãe, ele precisava desse dinheiro? “, perguntei uma
vez... Ela disse que não, mas...
O pai dela faleceu quando ela tinha 15 anos, e já estava com
o meu pai! Daí, sua única família era ele, até começar pela Mileide... A Mileide foi o único parto tranquilo, diga-se
de passagem... O meu foi o pior, quase matei ela!
Vivíamos uma vida muito “ nós cinco “... Passávamos o tempo
em casa com ela, quando não, na escola, na rua brincando, na casa dos
vizinhos... Mas, sempre foi nós cinco! Meu pai mal era presente nos finais de
semana, estava fisicamente, mas não sei onde estava sua mente...
Minha mãe lavava, passava, cozinhava, cuidava de nós quatro,
se atentava aos nossos deveres escolares, comparecia à todas as reuniões, às festas
juninas e de formatura... Corria para postos de saúde e hospitais...
Não passamos necessidades... Eu conheci a fome depois que
fui morar sozinha...
Nossa vida era meio que “ Os Três Mosqueteiros “, sendo
cinco, “ um por todos e todos por um “, e nossa vida era boa... Não conhecíamos
a vida, não tínhamos experimentado nada, não fazíamos idéia de como o mundo era
grande, e nossa vida era boa...
O André, irmão mais novo da minha mãe, faleceu quando ela
estava grávida do Edu... Lembro do barrigão, numa camiseta coloridinha de
listras que ela tinha...
Quando ela realizou o sonho de ter uma casa de blocos, meu
pai se foi... Nunca vi minha mãe tão mal na vida, nem antes dele, nem depois do
Edu! Não, não foi a dor da perda, mas da decepção, acabou com ela!
Daí eu vi minha mãe apaixonada, sorrindo, brilhando
inteira!!!
De uma senhora séria e velha, rejuvenesceu, floresceu, ficou
muito mais bonita, nada como a separação, rsrs... Aliás, nada como a
experiência de realizar o sonho de Cinderella, e no sonho vivenciar uma
realidade chata, porque daí acaba os sonhos, e a mulher vive de verdade!
Não deve ser lá uma missão tão fácil, viúva com 30 anos,
quatro filhos pequenos pra cuidar...
Ela nunca faltou com seu papel de mãe, se desdobrou pra nos
ver crescer numa boa...
Daí, veio a nossa adolescência, e a personalidade de cada um
se expondo, e pensa... Ter que lidar com quatro criaturas diferentes, sem dar
treta, rsrs, impossível!
Com a nossa adolescência, ela voltou a trabalhar fora, e
rejuvenesceu mais ainda, tá no mundo, tá no pique, tá no movimento...
À medida em que fomos crescendo, sua responsabilidade
diminuindo, a gente se achando no mundo, E ELA TAMBÉM!!! Cresceu conosco né...
O Edu foi morar fora em 2009, eu em 2010, e toda vez que a
gente pisava na casa dela, era entupindo a gente de comida, guarda-chuva, e
blusas... Mãe sendo mãe!
Eu tenho um corte na barriga, graças à minha cirurgia, e ela
teve quatro filhos, parto normal, corpo perfeito para a idade!
Toda a alegria de sua vida era ver nós quatro juntos,
falando putaria na mesa, morrendo de rir até amanhecer...
Com essa história do Eduardo, na frente dela eu me mostrava
de ferro, porque eu sabia que ela precisava de forças pra aguentar o tranco...
Dei abertura pra ela chorar e desabafar, mas eu não podia fazer o mesmo, não na
frente dela: TUDO VAI DAR CERTO, ISSO É SÓ UMA FASE!
Teve um dia que eu chorei horrores com ela no telefone,
detalhe: Ela estava em casa, o Eduardo também, e como na frente dele tinha que
estar tudo bem, ela tentando me tranquilizar no telefone, e não podia passar
que eu estava mal por causa dele...
No dia 31 de Dezembro, enquanto no meu egoísmo eu segurava a
foto dele e pedindo à meu Irmão Maior que meu irmão Eduardo ficasse, ela estava
pedindo à seu Deus que levasse o filho embora... Ela não aguentava mais... E
ELE JÁ NÃO ESTAVA MAIS AQUI.
É incomparável, o modo como ela encarou a morte do meu pai,
e como encarou a do meu irmão... Na do meu pai, ela sofreu a dor de perder um
irmão, um companheiro, um amigo... Na do meu irmão, o Amor é tão superior, que
houve total compreensão! Não disse aceitação, não disse que ela acreditou numa
boa, mas ela entende do começo ao fim, a finalidade do Universo! É tão BENEVOLENTE
esse amor, que inclui a condição da ausência dele aqui...
No velório, não só ela, mas eu e minhas irmãs estávamos com
a função de consolar quem chegava triste, chorando... Porque ninguém vai ser
capaz de NOS consolar... O tempo será capaz de nos fazer entender, mas ele não
estar aqui DÓI, e ponto final!
Quinze dias depois de sua partida, levei minha mãe pra
Fazenda do Chocolate, em Itú, e toda aquela maravilhosa Natureza, os animais e
sua Luz, fez tão bem à ela... Essa conexão com nossa verdade, essa ligação com
o que há de mais belo aqui, nos devolve a paz no espírito.
No tempo que meu irmão ficou na UTI, nós conversávamos
tanto, pois eu fiquei dormindo na cama dele, que é no quarto dela... Deixei ela
desabafar, pôr pra fora a revolta, a tristeza, as lembranças mais doces, a
frustração de não ter acertado em algumas coisas, como se quisesse mesmo errar!
Foi foda ouvir o nome dele inteiro na missa, foi foda pra
mim e ela não ficou nada bem...
PRA MIM, que sou uma mera mortal, uma irmã que bateu nele quando
criança, que brigou, xingou, humilhou, é difícil engolir... Eu sou só uma das irmãs dele...
Mas, eu digo à vocês, com segurança, que nem de longe, minha
mãe é aquele defunto vivo, depois da morte do meu pai! A morte do SEU FILHO a
estimou a viver mais, a gostar da vida, a cuidar mais de si, a se jogar mesmo,
por ele, EM MEMÓRIA À ELE!!!
Garanto à vocês, que quando uma mulher engravida, ela não é
capaz de medir o quanto pode amar alguém, à ponto de abençoar a morte, entender
as Leis Cósmicas, e seguir em frente...
(Tears...)
Agora eu sei, que quando eu a escolhi pra ser minha mãe, é
porque eu precisava de alguém que me inspirasse força! Ela parece uma rocha por
fora, mas é sua fragilidade que a torna mais forte, a cada novo impacto!
Minha mãe é foda, e eu jamais conseguiria passar por tudo
isso como ela!
UM FELIZ DIA DA MULHER, PARA A MULHER MAIS INCRÍVEL QUE JÁ
CONHECI NA VIDA...
Now.
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