FELIZ DIA DAS CRIANÇAS!!!


Tô lembrando da minha infância...
Nunca tivemos "dia das crianças", nem Natais, nem dia de nada...
O nosso maior prazer era reunir a família e vizinhos pra bagunçar na rua, rsrs...
A maior tristeza era ouvir a voz da nossa mãe chamar nosso nome... Demoraria muito o tempo entre dormir e amanhecer o dia pra aproveitar tuuuuuuuudo de novo, rs!
Poucas crianças naquela fava tinham brinquedos, e a gente que não tinha, tinha que aproveitar! Lembro dos fogãozinhos, das panelinhas, das Barbies... De vez em quando vinham doações, não sei de onde, provavelmente amigas da minha mãe, de brinquedos... De crianças que não queriam mais... E eu adoraaaaaaaaaaava!!!
Acho que já devo ter escrito por aqui que a pior parte da minha infância, talvez até a única ruim, era ir pra escola... Eu era sozinha, ninguém queria ser meu amigo, porque eu era favelada, tímida talvez por isso, me sentia um nadinha de nada...
E na minha área eu era eu!
Nunca fui de muita bagunça, muitas vezes eu até me divertia brincando sozinha, e fazia questão de me matar sozinha!
Adorava correr na chuva, rsrs... Lembro do céu que hoje eu reclamo que não vai secar minha roupa... Naquela época, qualquer cor que o céu ficasse era bem vinda, rsrs... ( Não era eu que lavava a roupa né?! )
Amarelinha, corda, esconde-esconde... Meu Deus, era maravilhoso viver, eu me realizava!
No quarto que hoje é da minha mãe, era um quintal, e otimizamos todo o espaço dele especialmente pra gente brincar!!! O barraco tinha dois cômodos, então talvez não coubesse nossa ânsia de tantas brincadeiras...
Eu não sabia que existia o mar... Pelo menos, não além da TV!
Eu não sabia que o dinheiro podia comprar tantas coisas, e nos fazer tão satisfeitos...
Eu não sabia que trabalhar era tão trabalhoso, em tantos aspectos...
Eu não sabia sobre piscinas, telefones residenciais, fartura na mesa, chocolates, computadores, quartos cor-de-rosa, lancheiras...
Eu não precisava comparar a minha vida com a de ninguém, e eu era feliz assim!
Com toda a ignorância que a idade nos limita, eu era MAIS feliz ali, naquela vidinha sem o conhecimento do mundão...
Eu sabia que ia ver meus pais envelhecerem juntos e moraria pra sempre com eles... Não pensava e nunca sonhei e casar e constituir família... Minha vida e família era meus pais e irmão... Qualquer um de fora era metido!
Daí, vi que comecei a crescer e a vida a ficar sem graça quando meu pai se foi... Começou cedo, as coisas fugir do meu controle... Do ilusório controle que acreditamos ter...
E me via pequena, no meio de tanta gente repetindo as mesmas palavras: "velório, flores, pensão, é a vida, as crianças, morreu cedo" , enfim... O povo não tem o menor respeito!!!
E nossa casa era de bloco...
E minha mãe rejuvenesceu uns trinta anos...
E meus irmãos cresciam comigo...
Adeus infância!!!
Eu não precisava saber tudo o que sei hoje, e nem o que ainda vou saber...
Eu não precisava comer todos os chocolates que como hoje...
Eu não precisava ter cartão de banco...
Eu não precisava ter espaço pra pôr minhas tralhas...
Eu dividia a cama com minha irmã mais nova, porque a mais velha dormia na cama de cima, e meu irmão acabara de nascer...
Todos no mesmo quarto, e mais os nossos pais na cama de casal... Era uma família, a minha família!
Parece que o destino quis mesmo nos separar... Mesmo que meu pai estivesse aqui, não seríamos unidos como fomos naquela época...
As puras crianças cresceram adultos cheios de orgulho...
E parece que nossos conhecimentos nos separam...
Eu queria muito, reunir a família no Natal, pra contar besteiras, e falar abertamente de cada um... É difícil isso, quando pelo menos uma dessas crianças detesta falar de si mesma... Nem gosta da atenção voltada pra si...
Minha mãe parece que tinha mais vida, ou era espontânea naquela época... Lavava a louça cantarolando... Fazia bolos, e comida... Uma comida que ela não consegue fazer há muuuuuuitos anos...
Eu sou o monstrinho nada sapeca na cabeça deles...
Acreditem, talvez eu tenha saído de casa, na tentativa de testar o quanto eu estava errada nas suspeitas de que eu era nada ali... Rsrs, infelizmente, eu estava mais certa do que eu sonhara, imaginava, e gostaria... Foi quando saí que confirmei que não sou porra nenhuma! Eu me sentia assim ali dentro, durante tooooooooooda a infância, mas a infância não permite que paremos pra raciocinar, pra ouvir a razão, pra parar pra pensar... Enquanto crianças, só fazemos... Os registros ficam na nossa memória, e a repercussão disso é na fase adulta! Não é de hoje que me sinto o desprezo do lar, isso tem exatamente 31 anos... E se não mudou em três décadas, vai mudar agora???
Não sou santa! De repente, no passado, além claro, das "atrocidades" que cometi contra eles nessa vida, eu tenha sido mãe de todos, e uma péssima mãe, diga-se de passagem... Daí ficou marcado na memória espiritual deles... Não sei, não sei o que fiz, tô julgando... Boa pessoa eu não fui...
Eu só sei que cresci, e com tudo o que vivi, todas as coisas boas de verdade, eu sou uma filha da puta mal agradecida, porque trocaria tudo isso pelas duas portas de madeira, pelo banheiro que nos protegia das chuvas fortes... Pelo som da moto do meu pai se aproximando... Pelo asubio da minha mãe limpando a casa... Pelos latidos do Snoop... Pelo pão da padaria Adorei em dia de domingo... Pelas ruas de terra...
Quando vou pra São Mateus, apesar de consideráveis mudanças ao longo dos anos, é o lugar onde cresci e vivi a maior parte da minha vida... As ruas são as mesmas, e até as vielas... A vizinhança... Rs, o forró da vizinha...
As festas na casa do Ivan eram tops pra nós crianças...
O terreninho, que até hoje é terreninho, rsrs...
A velha do saco... Coitada da tiazinha!
O gato preto e branco da dona França era minha tara!!! Gato enorme, fofo, arisco, gostoso!!! Roubava as carnes da geladeira da vizinhança toda, kkkkkkkkkkkk, todo mundo queria matar o gato, mas tinham medo da dona França... Chamavam ela de bruxa, macumbeira... Eu particularmente odiava entrar na casa dela, me sentia mal, era pesado...
A casa da dona Eugênia também, a benzedeira...
A casa da dona Maria também, a outra benzedeira...
Nuoooossa, lembrei da casa da dona Lurdes, a vó da Fabiana... Todo mundo adorava aquele quintal dos fundos!!!
DIA DE SÃO COSME E SÃO DAMIÃO???
Rsrs, ahhhhhh, os melhores dias da minha vida!!!
É uma pena que daqui trinta anos, as crianças de hoje vão ler isso aqui, e vão babar na tentativa de imaginar como era uma infância sem fios na tomada, rsrs...
LIVREEEEEEEEEEEEEEEEEEEEEEEEEEEEEE!!! Eu era livre, livre, livre!!!
Andava descalça, suja de barro, lama, chuva, pó...
Não tinha celular, não tinha computador, não tinha video game, não tinha porra nenhuma, mas era livre!!!
A melhor infância que alguém pode viver na humanidade é no meio d'uma favela!!!
Eu dou minha cara pra baterem, se algum adulto provar pra mim, que sua infância foi melhor que a minha, enfiado num condomínio fechado, com babá e tudo... Infelizmente, essas crianças cercadas de "cuidados", não tem uma infância feliz...
À eles é dado tudo, menos a LIBERDADE!!!
Liberdade pra criar brinquedos e as próprias brincadeiras, e como consequência, desenvolver meios de sobreviver, de se virar sozinho... Liberdade pra expressar o que quer de verdade, o que pensa, o que sente... Os pais dizem amar, e enfiam a criança numa chupeta pra não ouví-lo chorar... É A ÚNICA EXPRESSÃO QUE O BEBÊ TEM! Aí, enfiam a criança num computador, pra que eles não fiquem toda hora pedindo isso ou aquilo, ou fazendo perguntas, ou querendo diálogo, entrosamento... E ELES AAAAAAAAAAAAAMAM, QUE É UMA BELEZA!!!
O casal planeja ter um filho, tradução: Um bebê pra enfiar roupinhas lindas e exibir pro povo!!!
Quando fazem esse plano, não param pra pensar que em primeiríssimo lugar: É um ser humano usando dois corpos como ponte para nascer no planeta! É uma alma, em busca da própria verdade... É uma criança que vai chorar no meio da foda, é um adolescente que vai passar pelas tentações de drogas, álcool, sexo, e por aí vai, é um adulto cheio de problemas pra enfrentar sem saber por onde começar, mas o "ter filho" se resume num lindo bebê...
Será que a criança é respeitada como criança???
SERÁ QUE A CRIANÇA É VISTA COMO UM SER HUMANO???
Sente dor, sente alegria... Sente saudade, sente remorso...
É incrível, a capacidade que o adulto tem de apagar da memória que ele foi criança, quando se torna pai/mãe!!! Um desrespeito obsceno à individualidade da criança, e isso me tira do sério!
Não tenho esperança alguma quanto às crianças do futuro... Digo isso, porque serão criadas pelos adultos de hoje, amigos meus... Não conseguiram criar a si próprios, mal se conhecem, e se acham no direito de colocar a criança num canto, fazê-la ficar quieta... Enfim, quem sou eu pra me meter? Toda essa merda é em nome do amor...
COME ON, SOCA NO CÚ TOOOOOOOOOOODO O SEU AMOR VULGAR!!!
Você só respeita uma criança quando respeita a criança que existe dentro de você!
A criança marrenta, birrenta, dengosa, carente, chorosa, amorosa, carinhosa, alegre, espontânea... PRINCIPALMENTE ESPONTÂNEA, porque uma criança castrada é um adulto frustrado!!!
MAIS RESPEITO COM NOSSOS FUTUROS ADULTOS, FAZ-FAVÔ!!!
E um feliz dia das crianças, pra quem se considera uma eterna criança feliz!

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